24 de dezembro de 2013

Perdendo o juízo

Decidiu comprometer-se com estudos... desprezando amizades, amores, sentimentos. Ele sabia que para ser bem sucedido teria de fazer sacrifícios.
- Mas não dessa forma - retorquia-lhe deus de vez em quando.
- Então como, senhor? Diz-me como! Não és tu que tens um livro que fala de pecados e que ordena os pobres mortais, teus filhos, a sacrificarem-se pela santidade? Hem?!
O estudante encontrava-se num redemoínho de loucura, onde só o marranço interessava.
- Mas tens de ter um meio termo, meu filho - respondeu-lhe deus com a sua complacência - não te quero ver de cabeça perdida. Faz uma pausa.
- Uma pausa? E se o exame me correr mal? Pagas-me tu a pausa? Que raio de deus és tu? E já agora para que serves? Sai da minha imaginação! Raios! - passava-se o jovem, levando as mãos à cabeça.
- Tu é que me chamaste. Solta-me e eu vou, se quiseres - replicava-lhe deus com soberba calma.
- Sei lá eu o que quero - levantando a cabeça e olhando o céu - quero que venhas cá abaixo e me enfrentes na realidade. Quero ver-te!
- Muito bem - consentiu deus - então cria-me!
O jovem acalmou repentinamente e ficou breves segundos impávido com aquela sugestão:
- Crio-te? Como assim?
- Da mesma maneira que me ouves, ora. Faz por me ver.
- Como? - começava o jovem agora a interessar-se - Como é que eu faço isso?
- Não sei... Como é que me ouves?
- Sei lá! Tu é que és deus! Diz-me tu porque te ouço! - e aguardou a resposta.
- Porque a voz não tem rosto, e portanto imaginas-me a falar contigo. Ah, mas criar imagem não é tão fácil, pois não? E como tal não me vês. Ou pensas que não me vês...
- Pois então estou a olhar para tudo o que me rodeia e não vejo ninguém! - desafiou o jovem - E agora, onde estás?
- Posso ser essa árvore à tua frente, se quiseres.
O rapaz observou a árvore com desconfiança:
- Conheço esta árvore há anos. Não és tu de certeza!
- E esta voz que pensas ser minha? É?
- Deve ser, né? Se estás a falar comigo...! - certificava-se o jovem.
- Pois eu digo-te que tanto é a voz que ouves como a árvore que vês. Tanto é o perfume que cheiras como as palavras que ditas. O próximo como tu próprio.
Passados alguns segundos para que o jovem pudesse entranhar aquela ideia:
- Então não és nada... só porque eu quero!
- Então está bem, não sou. Portanto volta ao estudo que já descansaste o suficiente!
- Querias tu! Se não és nada eu é que sei! Agora vou passear e desanuviar um bocadinho!
Enquanto o jovem se afasta, um coelho aproxima-se da árvore e, sorrindo, diz-lhe:
- Consegues sempre acalmar as almas dos humanos, hem?

4 de novembro de 2013

Dreamzzzz...

No primeiro episódio desta história, duas amigas voltaram a encontrar-se, passados anos sem se verem. Aproveitaram e repuseram a conversa em dia.


2º episódio

- Onde vamos esta noite? - pergunta Verónica, atirando-se de costas e de braços abertos para o centro da cama. Cátia, regulando-se pelo espelho, tira os brincos:
- Olha, parte a cama, parte...! Eu é que não a pago!
- Epá, relaxa miúda! Quero lá saber da cama! Tanto quanto sei, temos todo o direito de desmanchar o quarto de hotel todo!
- Ai não temos, não! Pagamos cada coisinha partida!
As amigas tinham decidido partir um fim de semana à aventura, depois do agradável dia passado juntas na cidade onde viviam. Pegaram no mapa da Europa, fixaram ambas a vista na capital do território francês, e gritaram em uníssono e com sotaque: "Párri!!" Desde sempre foram as melhores amigas, crescendo juntas, escola incluída, até ao seu término, quando cada uma foi ao seu emprego, o que as afastou um pouco. Esta era, assim, uma oportunidade rara de desbundarem como antigamente.
- ´Tá bem, que paguemos, quero lá saber... Fogo, não achas que merecemos voltar à adolescência? Desde que trabalho que me sinto uma velha, pá... E já não estávamos juntas assim há anos! Por isso, minha querida, faz-me o favor de seres livre, está bem?
Cátia, já sem brincos, e remexendo o cabelo para o soltar, deixa-se cair num cadeirão almofadado no canto do quarto:
- Ai... tens razão querida, desculpa. Tenho de destressar um pouco. Mas olha, não faço ideia onde vamos esta noite, conheço isto tão bem como tu. Logo vemos, deixa-me descansar um bocadinho que estou exausta da viagem...
- Ui, também eu... Aquela hospedeira irritante, aquele taxista tarado, e esta novidade toda, esgotaram-me! Ai, Paris, Paris... o que nos reservas... - olha para Cátia, e repara que a amiga já dorme. Sorri, e adormece ela também, Verónica.
...
"nock-nock" - ouve-se vindo da porta... Cátia levanta um sobrolho e olha em direção à origem do som, tentando perceber se estava a sonhar ou era mesmo real. Uma segunda batida fê-la ter a certeza que não era sonho. Levantou-se, dirigiu-se à porta e, com uma mão na maçaneta e um ouvido atento, perguntou:
- Quem é?
- Ma'dame, le petit-déjeuner, s'il vous plaît... - responderam do outro lado.
Cátia fica confusa e fala baixo para si própria:
- Ai que agora estão-me a falar francês... - olha para a amiga adormecida sobre a cama e fala-lhe ainda em surdina, mas com mais velocidade no discurso:
- Verónica!! Acorda mulher, 'tão prá'qui a falar francês, não percebo nada!
A amiga abre com dificuldade os olhos e tenta entender o que ouvira de Cátia:
- Hã?... Quem? Franceses? Que é que eles 'tão a dizer?
- Sei lá, qualquer coisa "peti déjenê" ou sei lá eu...
- Isso é pequeno almoço em francês, pá. Tinhas de me acordar? Abre lá a porta ao homem...
- E eu sei lá falar com ele? Vem cá tu, caraças...
Verónica, visivelmente incomodada de lhe ter sido roubado o sono, levanta-se e encaminha-se à amiga:
- 'Tás a ver o que dá passar as aulas de francês a namorar?
- Olha quem fala... E tu em matemática!
- Iá, mas isto é França... - põe a mão por cima da de Cátia, que segura a maçaneta, gira-a para abrir, e olha a amiga - ...não é Matemança!
Verónica abre a porta e surge um imenso carrinho de mão cheio de travessas com pãezinhos, iguarias, doces, chaleiras, cafeteiras, e outros suminhos tantos. As amigas ficam fascinadas com tanta beleza e cor naquele manjar. O moço avança com o carrinho adentro, deixa-o, e estende a palma da mão, aguardando gorjeta. Cátia apronta-se a retirar cinco euros da mala e colocá-los na mão do empregado.
- Merci, mademoiselle - agradece o moço, que pretendia agora sair, não fosse sentir a mão de Cátia ainda sobre a sua. Olha então os olhos de Cátia que, por sua vez, se franzem e se mantêm fixos nos do rapaz.
- Mademoiselle? - questiona o rapaz, desentendido das intenções de Cátia. Vanessa fica ela também surpresa com aquela pausa da amiga. Cátia larga então o jovem e este sai, com um "merci" indeciso. Verónica perscruta a amiga:
- Cátia?... Que foi isso? Apaixonáste-te?
- Não... mas acho que já vi este gajo em algum lado... - mantendo os olhos fixos na porta que o moço acabara de fechar.
- Como assim? De onde o conheces?
- Isso queria eu saber... - gira a cabeça na direcção da amiga e olha-a nos olhos - ...mas até lá não estou descansada...



Não percas o próximo episódio...






1 de julho de 2013

Money... Love...

It's not about the money
It's about love... Just love

Money is outside, you touch it
Love is inside, you feel it

Money can buy short time fake love
Love buys all the money in the world

You may not money someone
But you can love everybody

Money won't always be there for you
Love will

So, please... don't money,
Love!

18 de junho de 2013

Dreamzzzz...

1º episódio

- Cátia!!!
- Hã!!!? - despertou Cátia violentamente, sob o grito da amiga - Que foi? Onde estou?
- Calma miúda, ahahah! Sou eu. Isto é que são oito horas à minha porta? Esperei, esperei, esperei, até que decidi vir eu a tua casa e o que vejo? Tua ainda na cama! Levanta-te, mulher!
Cátia lentamente desliza as pernas para fora da cama e leva a mão à cabeça:
- Sonhei outra vez com ele...
- Ele quem? Espera... não me digas que foi com o tal que nunca conheceste? Ó se faz favor... E por isso ainda estamos aqui! Veste-te que tu precisas é de um café nessa cabeça! Bora!
Cátia dirige-se à casa de banho para aliviar os líquidos acumulados durante a noite, lavar-se e arranjar-se decentemente, e levanta a voz para que Verónica, a amiga que esperava no quarto, a ouvisse:
- Vais-me dizer que isto nunca te aconteceu?
- O quê? Sonhar com gajos que nunca conheci? Óuó... É quase todos os dias! Principalmente se forem bons! É pena é ser só sonho. Porque na realidade nunca são assim - dá uns toques no cabelo, olhando-se ao espelho por cima da cómoda do quarto de Cátia - Tomara eu conhecer um homem como os que a minha imaginação faz.
Minutos depois, Cátia, já aprontada e vestida, pega no braço da amiga e saiem as duas de casa:
- Bora lá, como tu dizias, bem que preciso de um café.
Ao dobrarem a esquina para uma das avenidas mais movimentadas da cidade, onde se encontravam também muitos turistas, as amigas cruzam-se com um homem esbelto, que lhes sorri. Verónica comenta:
- Ui... Aquele deve ser italiano - já a uns passos de distância dele, levanta a voz, como que para ser ouvida - Rasgava-te esse fatinho todo, querido... - vira-se para Cátia - É tipo aquele, o gajo com quem sonhas?
Cátia, sorrindo entretida com a lata da amiga para com o estrangeiro:
- Sei lá, maluca. Acho que o gajo do meu sonho não tem rosto. Ou pelo menos eu nunca me lembro da cara dele.
Verónica, percebendo que o assunto não atava nem desatava, adianta-se ao passo de Cátia, vira-se para ela e bloqueia-lhe o caminho repentinamente:
- Espera lá! Tá na hora de esclarecermos essa tua fantasia. Ora tu sonhas com um gajo que nem conheces, que nunca lhe viste a cara, nem nunca lhe ouviste a voz, certo?
- Sim... Só trocámos umas conversas num fórum online sobre moda, nada mais - confessa Cátia, tentando perceber a que ponto queria a amiga chegar.
- Pois então pode ser um gajo qualquer, ora! Como os que eu sonho, que são simplesmente gajos que a minha imaginação cria. Porque pensas que o tipo com quem sonhas é o mesmo com quem teclas na net?
- Porque assim ele me diz, no sonho.
Verónica, imobilizada, olha nos olhos da amiga, parva com o que tinha ouvido.
- Desculpa? Tás-me a dizer que esse tal de... como é que dizes que ele se chama?
- Versaci, é o nick dele no fórum.
- Ok, então esse tal Versaci... que tu nunca viste, - arregalando os olhos para demonstrar o absurdo - nunca ouviste, nem sequer sabes se é real... disse-te, nos teus sonhos, que é ele mesmo?!
- Iá... e depois? Vais-me chamar maluca?
- Não sei se maluca, se génia. Nem sei em que se enquadra essa cena! Mas lá que é fantástica, é! - retomando o andar, já ao lado da amiga, dirigindo-se ambas ao café do costume - E não tens curiosidade em conhecê-lo?
- Nem por isso... Acho curioso este meu sonho, nada mais - sentando-se à mesa e fazendo, com os dedos, sinal de pedido de dois cafés ao empregado que já conhecia - Acho até que foi o tema que discutimos que mais me interessou.
- Ou seja... - Verónica pausa dois segundos para organizar as ideias - Tanto quanto sabes, até pode ser um daqueles gajos que estão ali na mesa do canto - fazendo sinal com o olhar - Pode ser até o gajo da tua vida, aquele perfeito para ti, e tu não queres saber? Fogo... eu acho que ia investigar!
- Verónica... - Cátia rebola os olhos para a amiga - Se for o homem da minha vida e tiver de acontecer, acontece. Se não for, tenho outro desgosto para juntar ao molhe. Deixa lá que estou bem assim. Prefiro o conforto dos meus sonhos à realidade crua e dura - e remexe com a colher o café que já estava na mesa. Verónica recosta-se à cadeira e deixa o olhar passear pela esplanada do café:
- Olha, querida... - leva a chávena aos lábios, bebe um gole, e pousa - Agora falaste bem. Quando tiver de ser, é. Acho que vou adoptar o teu sistema.
Cátia olha de lado para a amiga e sorri, abraça-a e beija-a na bochecha:
- Mas isso não quer dizer que temos de parar de admirar homens jeitosos, pois não?
- Ai isso nunca! Nós duas juntas é o prato do dia! - e riem-se ambas com vontade, levadas depois às gargalhadas, deixando a restante clientela do café a olhá-las de espanto. Ainda a rir, Verónica volta a mirar o jeitoso da mesa do canto:
- Ai esta vida...


Não percas o próximo episódio...


15 de junho de 2013

Fast but not furious

Ah ah ah... - riu-se largamente o velho - Então? Já aprendeste ou queres levar mais?
O jovem levanta-se e corre em direção ao velho, salta de forma louca, estica a perna com intenção de acertar no peito do velho, mas apenas passa de raspão na sua túnica, e volta a ir ao chão com grande estrondo! O velho, depois de tantos desvios que fez ao jovem aprendiz cheio de força, decide terminar o treino por hoje e, sempre sorridente, diz-lhe:
- Rapaz... Tu tens muita vontade, mas há algo que tens a mais... A fúria! No dia em que te mantiveres sereno talvez possas vencer este pobre velho. Até lá, vai aprender a amar.
O jovem não compreendeu. Havia ainda de muito sofrer com a sua fúria, mas assim era o caminho. E o velho sabia-o. Apenas sofrendo o suficiente, poderia deixar o que estava a mais.

24 de maio de 2013

Finest hour

No episódio anterior: Diego é dispensado das suas funções. Apressa-se ao encontro da colega, no hospital, onde encontra a criança que havia salvo anteriormente. Jéssica está em estado de coma. Diego e o rapaz, que agora se sabe chamar-se Chico, ficam numa situação de alarme, pelas informações dadas por uma paciente acamada. Alguém mal intencionado pode estar a caminho da sala onde se encontram...


episódio 3º

   A porta parou a meio da abertura, o que fez Diego franzir as sobrancelhas. Estaria alguém indeciso acerca de entrar naquela sala? Mas um polícia de elite não se pode dar ao luxo de aguardar os movimentos do inimigo. "Se tem margem de manobra, deve agir!", aprendera na instrução avançada. Numa ação pensada em milésimos de segundo, Diego eleva o joelho em direção à porta, estica a perna e dá um forte empurrão nesta, que gira violentamente para o lado de fora da sala, levando consigo o que estava por trás. Diego lança-se ao corpo que foi projetado para o corredor, antes que se pudesse levantar, aplica-lhe pressão com os dedos da mão sobre um ponto vital no pescoço e nem lhe dá tempo de gemer:
   - Quem é você?! O que quer desta sala?
   O homem, do jeito vigorosamente preso que estava por Diego, nem conseguia responder. Os seus canais respiratórios, apertados pela mão do agente, não conseguiam emitir som, e a cor da sua pele começava a tornar-se vermelha, com as veias do rosto a incharem. O homem apenas conseguiu levantar o braço a esforço para agitar o cartão que tinha agarrado à lapela da farda, o que atraiu a visão de Diego, que observou o gesto, retirou de imediato a pressão sobre o pescoço do homem e levantou-se:
   - As minhas desculpas, senhor doutor! Pensei que fosse outra pessoa. Lamento.
   O médico, um pouco atordoado, levanta-se ajudado pela mão de Diego:
   - Outra pessoa?! Como quem, por exemplo? Um assassino assaltante de hospitais? Que raio de forma é essa de receber uma pessoa? Quem iria entrar aqui que necessitasse deste ataque que você me fez? - afaga com a mão a zona do pescoço atacada por Diego - Caramba, homem...
   - Lamento imenso, mas não podia arriscar. Segundo uma senhora que está ali acamada, sim, poderia ser um malfeitor.
   - Qual senhora? A dona Maria? Só podia ser... Meu amigo, essa senhora tem problemas para além de físicos. Ela pensa que todo o mundo pode atacar a qualquer instante... Não acredite em tudo o que ela diz...
   - Ai sim...? - Diego, perante esta informação, fica um tanto ou quanto envergonhado pelas suas ações - Pois... lamento de novo, doutor, não sabia, peço desculpa.
   - Você é colega de trabalho da Jéssica e veio cá vê-la, certo?
   - Exacto. Sou o Diego, e lá dentro está o Chico, um rapaz que veio comigo. Diga-me, doutor, quanto tempo vai a Jéssica permanecer em coma? Quando é que ela desperta? É muito grave?
   - Sabe... por mais que a medicina evolua, o funcionamento do cérebro humano permanecerá um mistério. A sua colega foi vítima de uma bala projetada contra o tórax, e atingiu o pulmão direito. Felizmente não atingiu o coração ou qualquer artéria mais importante. Foi uma hemorragia simples de estancar, e os seus tecidos estão em fase de recuperação. Nada supunha que a levasse a este estado, por isso lhe disse que o cérebro é um mistério. Diga-me, sabe se foi a primeira vez que ela sofreu o impacto de uma bala?
   - Tenho a certeza. Trabalha há anos comigo e nunca foi atingida. Foi a primeira vez, sim.
   - Terá sido então o susto, concerteza. Segundo os paramédicos da ambulância que foi ao vosso encontro, ela estava já neste estado. Decerto optou inconscientemente por "se desligar" - gesticulou com os dedos o símbolo das aspas - como defesa ao medo. O tempo que levará a despertar será da responsabilidade dela, agora.
   O médico deixou as palavras assentarem na mente de Diego e, sabendo nada mais poder adiantar:
   - Vou então deixá-lo que volte ao quarto, sim? O que vim aqui fazer já fiz, que era falar consigo, agora tenho outro compromisso noutra ala do hospital, com licença...
   Diego, pensativo, mas em nada pensando, regressa lentamente ao quarto:
   - Chico, podes sair daí debaixo, não há nenhum mau aqui. - volta a posicionar-se ao lado da cama de Jéssica, levanta a mão ao nível do rosto da colega deitada e acaricia o seu cabelo, enquanto murmura suavemente: - Jéssica, tu estás bem. Porque não despertas...?
   Chico, já de pé e ao lado de Diego, olha para este e sente compaixão e afecto sairem dos olhos do agente em direção à colega:
   - Você gosta dela, não gosta?
   Diego gira a cabeça na direção do rapaz:
   - Às vezes queria gostar mais do que posso demonstrar, sabes... Mas não posso misturar o meu trabalho com sentimentos... - vira-se para o rapaz e estica-lhe a mão, à espera da dele - Vamos, a Jéssica precisa descansar... - começaram a andar em direção à porta.
   - Fiquem... - volta a reiterar a idosa acamada, quando Diego e Chico passam por ela.
   - Minha senhora, aqui ninguém faz mal a ninguém. Descanse... - tenta Diego acalmá-la uma última vez.
   - Pobre menina... aí deitada... ela confiou em... mim, e eu vou falhar...
   Diego acha aquelas palavras da senhora tão reais, mas sabe serem problemas mentais, segundo informação do médico.
   - Às vezes não me importaria de estar noutra realidade, como esta senhora... - Diego desabafa a Chico, enquanto saiem pela porta - Agora voltemos a ti, miúdo. Que idade tens? Onde moras? - enquanto percorriam os corredores de volta à entrada principal do hospital.
   - Tenho nove anos... - A resposta à pergunta seguinte saiu a custo - Moro... por aí. - e silenciou-se.
   Diego sente o embaraço do rapaz, desacelera o passo, e dobra os joelhos, baixando-se ao nível dos olhos de Chico:
   - Não tens casa, é isso que estás a dizer? Onde estão os teus pais? A tua família?
   - ... não sei... Nunca tive família...
   - Chico, tu estás bem vestido e não estás sujo. Quem te põe assim?
   - Um lar de adopção de crianças. Mas eu não gosto. Vou lá de vez em quando, mas fujo.
   Diego fica boquiaberto. Instantes depois levanta-se e continua caminho em direção à saída do hospital, com a mão do miúdo agarrada à sua:
   - Vamos ver o que podemos fazer por ti, Chico. Tens de ter estabilidade. Eu tenho uns dias livres, ficas comigo entretanto. Assim a vaguear não terás um futuro decente. Onde é esse lar onde estás? Preciso de os informar.
   - É do outro lado da cidade. Ao pé do aeroporto.
  O sol encandeia-os na rua, dado o contraste com a luz serena do hospital de onde acabam de sair. Ainda assim, Diego consegue notar o olhar de um transeunte com cara de poucos amigos que por ele se cruza em direção oposta, hospital adentro. Por meio segundo, entreolham-se, e Diego sente algo que não sabe explicar, mas que foi um dos factores que o levou até tão longe no seu trabalho de agente especial. A expressão que viu no rosto do desconhecido alertara a sua mente preparada. Mas Diego sabia que andava nervoso, e podia não ser nada demais. A velha ao lado de Jéssica podia ter razão, mas o médico dissera que eram tudo ilusões. A mente de Diego encontra-se num cruzamento de suspeitas.
   - Raios! - queixa-se Diego, sabendo que a consciência não o deixaria tranquilo. Baixa-se ao nível do rapaz, aponta para um jardim e diz:
   - Chico, senta-te naquele banco de jardim e espera até eu voltar! - o rapaz nem teve tempo de responder, Diego solta a sua mão e volta acelerado para a entrada do hospital.
   Tudo poderá ser cansaço acumulado... Tudo poderá ser real... Mas Diego não concorda ser o destino a decidir. Ele próprio precisa agir, pese embora o facto de ter sido dispensado das suas funções. Mas há coisas mais valiosas que o seu estimado trabalho... Jéssica. Ela provocava batimentos fortes no seu coração, coisa que ele apenas começava a perceber agora...



Não percas o próximo episódio...

15 de maio de 2013

Finest hour

No episódio anterior: Agentes especiais Jéssica e Diego confrontam um criminoso que ameaça uma criança. Jéssica precipita-se e é baleada. Diego vinga a colega e dispara sobre o bandido, matando-o e libertando a criança. Diego desespera pela chegada de ajuda médica enquanto Jéssica perde as forças...


episódio 2º

   - ...e portanto, meus caros, é trabalho chato, mas imprescindível ser feito, o de preencher papelada interna, pois ajuda a manter-nos coesos em nossas ações. Muitos de nós já o sabemos por experiência própria, mas é sempre bom recordar. E agora vão às vossas vidas, que eu tenho mais que fazer.
   Terminava assim o chefe mais um discurso dirigido aos agentes presentes, veteranos e iniciados, enquanto ajeitava as folhas que usara como memorando para o que tinha dito. Olhou de relance para Diego, que estava sentado no canto do fundo da sala, e ainda o único presente. Já todos haviam saído, numa algazarra de conversas. O chefe aproxima-se de Diego:
   - O que é que apanhaste do que eu disse?
   Diego levanta os olhos em direção ao chefe, mas sem mover a cabeça, totalmente alheio ao discurso anterior. Levanta os ombros e faz um trejeito com os lábios, como quem diz não sei. O chefe não tem dúvidas:
   - Está decidido: vais uma semana de licença para onde quiseres. Aqui assim não me vales muito. Nem a ti próprio, bem sabes.
   - Como assim, chefe? Sabe que sou o mais dedicado e não falho uma chamada. Por não ter estado atento hoje, retira-me logo as funções?! Sabe bem que eu nem preciso sequer destas informações sobre escritos internos, faço-os a todos!
   - E tu sabes bem que não é esse o problema... e sabes bem que não estarás com os reflexos a cem por cento lá fora, numa qualquer situação de perigo. Estás muito entranhado no acontecido com a Jéssica. Precisas descansar. Vai, é uma ordem. E deixa a arma no armazém, não estás em condições de andar armado.
   Diego nunca havia perdido o controle às suas emoções, mas agora sabia que o chefe tinha razão.
   - Dois dias, chefe. É suficiente. Pode contar comigo.
   - O tempo que for preciso, Diego, não tenhas pressa. Relaxa-me esses neurónios...
   Uns breves momentos pensativo, Diego consente e sai. Deixa a arma com o responsável de armazém e sai em passo rápido para a rua, assobia com vigor a um táxi, que pára em sua frente, e entra para o banco de trás:
   - Hospital Central, rápido!
   Habituado às pressas de polícias, o taxista apenas responde "sim, senhor!" e mete prego a fundo. Dez minutos depois, quase do outro lado da cidade e após vários semáforos vermelhos passados:
   - Fique com o troco! - diz Diego enquanto abre a porta e sai em passo rápido para a entrada principal do hospital, sem sequer reparar que havia deixado uma nota de cinquenta para o valor de sete indicado no taxímetro. Entra hospital adentro, perscruta com o olhar de um lado ao outro, vê o balcão de informações à esquerda, dirige-se à senhora por detrás deste e, antes sequer de pousar as mãos no balcão, exclama:
   - Jéssica Sands!
   - Perdão, senhor?
   - A minha colega, veio para este hospital, com um ferimento de bala, Jéssica Sands! Onde está?
   - Ah, concerteza... Lamento senhor, mas a esta hora não podem entrar visitas. Mais trinta minutos. Pode esperar na salinha aqui ao lado...
   Diego mostra-se impaciente, mas decide acalmar. Afinal era só mais meia hora. Olha para o lado, vê duas largas portas abertas a dividir a sala de espera do local de entrada onde estava e dirige-se para lá. Vê algumas pessoas sentadas, encontra uma cadeira vaga e senta-se, não reparando em quem estava ao lado:
   - Senhor...
Diego vira a cabeça para o lado e vê uma criança, com os seus nove anos:
   - Obrigado...
Subitamente Diego reconhece a criança que salvou dos braços do criminoso dois dias antes:
   - Miúdo! Estás aqui...! Que fazes aqui? Porque não estás com a tua família? - foi uma rajada de perguntas agressivas, pensou Diego por momentos - Desculpa, antes de mais, como te chamas? Não cheguei a saber o teu nome.
   - Pode-me chamar Chico. É como os meus amigos me chamam. Vim cá ver a senhora polícia que, consigo, me salvou. Eu sabia que ela estava aqui. Estou à espera.
   - Ok, Chico. Eu sou o Diego. - apertou-lhe a mão com um sorriso sincero - Então vamos os dois, eu também vim ver a Jéssica. - Diego põe a mão sobre o ombro do rapaz e sorri carinhosamente - É o nome dela, sabes? Acho que vai gostar de te ver. Estás aqui há muito tempo?
   Chico não teve tempo de responder. Uma voz vinda dos altifalantes anunciava a hora das visitas poderem entrar nos quartos dos respectivos visitados. Diego levanta-se e pega na mão de Chico:
   - Anda, depois acabamos a nossa conversa. Vamos ver como está a Jéssica.
   Uns corredores e curvas depois avistam o quarto de cuidados intensivos onde estaria Jéssica, segundo a senhora do balcão de  informações, à qual Diego perguntou quando lá passou de novo ao sair da sala de espera com Chico. Mas a escassos metros da porta ambos se assustam com o abrir repentino desta. Uma enfermeira acaba de sair lá de dentro e, vendo que Diego e Chico para lá se dirigem, informa-os:
   - Vêm de visita? Peço-vos que não façam barulho. A menina Jéssica ainda se encontra em estado inconsciente e com diagnóstico reservado. - vira-se para Diego - Se quiser chamo o doutor para vir falar consigo...
   - Agradecia que o fizesse, então. Obrigado.
   A enfermeira prossegue caminho na direção por onde Diego e Chico vinham, enquanto estes se entreolham, como que para darem força um ao outro antes da entrada no quarto da colega e amiga. Diego inspira fundo, pega na mão de Chico, viram-se ambos para a porta, e empurram-na. A primeira vista que têm é de uma senhora idosa na cama, ligada a soro. Jéssica encontrava-se deitada na cama seguinte, paralela a esta. Cumprimentaram com um "boa tarde" a senhora idosa, que se encontrava acordada e que igualmente respondeu, contornaram-na, e chegaram-se à cama de Jéssica. Estava com um ar calmo e tranquilo, como se de apenas um leve sono se tratasse. Contemplaram o seu rosto durante uns segundos em silêncio, quebrado logo após pela lenta e fraca voz da senhora deitada ao lado:
   - Não a... deixem...
Ambos Diego e Chico viram a cabeça para trás, com uma expressão inquisidora. Pergunta Diego:
   - Como, minha senhora?!
   - Não a deixem... ele pode... voltar....
   - Quem pode voltar? De que fala a senhora? Você está bem?
   - Eu... não interesso... a menina que está aí contou-me... coisas... e alguém veio... cá. Com más intenções... Fiquem... não vão.
   Diego, com a sua experiência em psicologia criminosa, começa a ver um padrão coerente no que a senhora relata, e tenta ajudá-la a dar-lhe mais indícios:
   - Calma, senhora. Eu estou aqui, ninguém vai fazer mal a ninguém. Agora, conte-me devagar, a seu tempo... Você disse que a Jéssica lhe falou? Quer dizer que ela esteve consciente?
   - A menina despertou... uns minutos, sim. Durante esta noite... que passou. Mas não tinha forças. Pediu-me um favor antes de... um homem ruim entrar... aqui. Eu não sei... quando ele voltará... fiquem... receio que...
   Antes que a senhora terminasse a frase, Diego começa a ouvir de longe uns passos pelo corredor que se aproximavam do quarto onde se encontravam. A sua mente preparada para o perigo calcula todos as ações possíveis e questiona rapidamente a senhora:
   - Você tem a certeza do que está a dizer?
   Os passos chegavam cada vez mais perto...
   - Sim... proteja essa menina...
   - Chico, vai p'ra baixo da cama já! Fica aí e não saias! - vira-se para a senhora - A senhora feche os olhos e finja-se de adormecida! - dizendo isto, salta ele próprio até à porta, encosta-se à parede, e tenta acalmar a respiração, que o denunciaria caso não a conseguisse controlar. Mas não estava a ser fácil. Se o que a senhora dissera fosse verdade, poderia muito bem ser alguém mal intencionado que se estava dirigindo ao quarto. E Diego estava fora de licença, e sem arma. É certo que tinha muito preparação corpo a corpo, mas neste momento reparara na falta que a arma lhe fazia, tornava-o menos confiante.
   Ainda com a respiração ofegante, fecha os punhos, olha de soslaio para debaixo da cama de Jéssica, onde está Chico, que lhe sorri a medo, volta a olhar para a porta, e prapara-se para a inevitável abertura desta, a escassos segundos de acontecer...
   Os passos ouvem-se mais lentos...
   Diego franze as sobrancelhas, aperta mais firmemente os punhos...
   A porta começa a abrir-se devagar...



Não percas o próximo episódio...

1 de maio de 2013

Finest hour


episódio 1º

   - Em baixo, já! Não volto a repetir!
   Mas o criminoso não dava o braço a torcer, mantendo a arma apontada ao refém. A agente especial Jéssica começava a dar indícios de nervosismo, começando a escorrer uma gota de suor pelo lado esquerdo do seu rosto, nunca desviando a mira do bandido. Diego fica preocupado ao sentir nervosismo na colega:
   - Que estás a fazer, Jéssica? Mantém-te no protocolo! Ele vai ceder, sabes disso! Não ponhas a operação em risco!
   A distância de 15 metros entre os agentes e o bandido era suficiente para Diego falar com a colega, tentando incutir-lhe calma, sem que o criminoso ouvisse:
   - Escuta, o reforço vem a caminho. Conseguimos sem problemas aguentar este tipo, ou mesmo forçá-lo a desistir. Não te ponhas com ideias. Sabes que isso não vai ficar bem no teu relatório!
   Mas algo mais profundo afectava Jéssica, que começava a tornar a sua respiração ofegante e a tremer os lábios como que a impedir um choro:
   - Aquela criança não tem culpa nenhuma... Não posso deixar que ele leve a melhor. E protocolos não se preocupam com isso.
   - Que estás a dizer, Jéssica?! Estás a ficar fora de ti. Por favor, estabiliza-te. Eu não posso fazer isto sozinho! Se ignorares o protocolo é que isto dá para o torto! Somos dois, ele é um, não vai ter coragem de disparar...
   - Mas a cada segundo que passa, aquele menino sofre mais... Não posso deixar isso. Perdoa-me, Diego... tenho de agir!
   - NÃO!!!!! - Diego, sobressaltado, vê a colega levantar os braços, deixar cair a arma, e dirigir-se lentamente em direcção ao bandido. - Jéssica pára! Volta para trás, estás a descoberto, queres morrer?! Não faças isso!
   Tarde demais. Como que em câmera lenta, Jéssica vê o mundo em volta enevoar-se, o chão a aproximar-se da sua vista, e o corpo a perder sensibilidade. Diego, perdendo o norte à calma, vendo a colega cair, não hesita e dispara todas as balas dentro da sua pistola em menos de três segundos contra o inimigo, numa raiva desenfreada.
   A névoa dos disparos paira durante breves segundos... Com o silêncio posterior, deixando a calma voltar ao seu cérebro, Diego repara que a criança se encontra livre dos braços do bandido, estando este caído numa poça de sangue. Acertara em cheio, como que por milagre, não ferindo a criança.
   - Jéssica...? - questiona Diego ao chegar perto da colega, desviando-lhe o cabelo dos olhos, que assim ficou, quando caiu ao chão. Jéssica murmura com dificuldade:
   - A criança... está bem?...
   - Está, não te preocupes. Aguenta um pouco e não gastes a tua energia a falar. A ambulância deve estar a chegar com os reforços.
   - Desculpa, não consegui evitar... Vi-me naquela situação...
   - O quê...? Qual situação? Não conseguiste evitar o quê?
   - Ver a  criança aterrorizada nos braços daquele desgraçado... Aconteceu-me em miúda... Pensava que já tinha superado, mas hoje voltou tudo ao de cima... desculpa...
   Diego começa a perceber porque Jéssica costumava abrandar o seu pensamento perante imagens de crianças sob ataque nas reuniões da sua equipa, e lamenta-se ele próprio de não ter percebido antes.
   - Não faz mal, Jéssica. Ninguém é de ferro. Todos temos fraquezas. Agora por favor aguenta um pouco, está quase aí a ajuda.
Sirenes começaram a ouvir-se ao longe, o que não aliviou o stress de Diego:
   - Raios, porque demoram tanto!? - disse entre dentes, virando a cabeça para o lado, para que Jéssica não ouvisse.
   - Espero que continues um bom polícia, Diego. Sempre admirei o teu trabalho. Faz isso por mim...
   - Que estás a dizer? Não o conseguiria sem ti! Aguenta por favor, Jéssica, não te deixes ir!!...
   As sirenes aproximavam-se, e as pálpebras de Jéssica desciam...



Não percas o próximo episódio...





10 de abril de 2013

Problemas na fronteira

Sete da manhã. Frio... calor... não me lembro. Ainda estava a acordar de um sono pouco tranquilo por causa dos cães do vizinho a ladrar a noite toda! Se eu tivesse uma caçadeira tratava do assunto, mas a polícia só me dá licença para transportar uma bisnaga. Levantei-me então lentamente enquanto dava início ao funcionamento do meu cérebro, preparando-o para o dia que tinha pela frente, quando abruptamente o despertador toca, alto e estridente. Detesto quando isto acontece. Mas esta seria a última vez. Peguei nele e atirei-o em direcção à janela com toda a força! Esqueci-me foi que estava fechada… Ou seja, o despertador desfez-se aos bocados. A janela nem arranhada ficou. Mas como tinha mais que fazer, deixei o quarto em direcção à cozinha e estrelei um ovo, e deixei-o cair no chão. Como não tinha paciência para fazer outro, liguei para uma agência de seguros e falei com a Marta, que me passou à Teresa para tratar de assuntos relacionados com o segredo de estado.

Saí então de casa mais confiante que nunca e esperei pacientemente por um táxi na paragem do autocarro. Passados vinte minutos chega um. Estava ocupado. Não me podia permitir esperar muito mais tempo. Pensava eu agora em apanhar o metro, quando começa a chuviscar. Tinha de ser rápido a correr até lá para não molhar o chapéu-de-chuva novo que comprara um dia antes. Protegi-o com o casaco enrolado à volta, juntamente com a camisa e as calças. Mas fui calçado. Os pés eu não molhava de certeza!

Chegado à estação, entrei então no metro, vesti-me e perguntei as horas a uma senhora que estava encostada a outra senhora, que estava encostada a um senhor e mais outros tantos. Percebi que aquele vagão estava apinhado de gente. Não me disse as horas, apenas me disse que não era cedo. Assenti com pesar e falei turco durante a viagem toda, para distrair. Finalmente na última estação, saí do metro e dirigi-me apressadamente para a limousine que me esperava lá fora. Sentei-me, fechei a porta e disse ao "chauffeur" que me apetecia tomar algo, ao que ele respondeu que tomou a liberdade de pensar nisso, ligou a ignição e acelerou a fundo. Já numa velocidade de cruzeiro, insisti:
"Apetecia-me tomar algo." Ao que ele reafirmou: "Já lhe disse que tomei a liberdade de pensar nisso." Deixei-o em paz, não fosse ele chatear-se e fazer uma má condução. Daí a pouco travou bruscamente, virou-se para trás e disse-me que havíamos chegado. Abri a porta e saí, reparei que estávamos na fronteira, olhei para o chão e encontrei os problemas. Eram na sua maioria de somar e subtrair, assentes numa folha A4 quadriculada.

Moral da história: mesmo que o desfecho seja ridículo e incerto, aprendeste algo pelo caminho. Faz o que tens a fazer.

7 de abril de 2013

O amor e uma caneca

Este é um texto baseado na sugestão da Knight, que me deu o título e de quem espero a respectiva crítica após a sua leitura. Obrigado Knight pela sugestão.

"Joana, já leváste as bebidas prá mesa?", perguntou a anfitriã da festa. "Já, tonta, sabes que sim, porque estás a perguntar? Querias emborcar mais um cadinho, era? Tem mas é calma, fofinha, senão quando o pessoal começar a chegar já tu tás podre!", responde-lhe Joana enquanto passa para a sala para pousar os pratos na mesa. Ainda da cozinha, Magda eleva a voz: "Ó parva, e não é esse o objectivo? Apanharmos uma granda bzaina?" Joana, voltando para a cozinha: "Mas não já, né? Queremos conviver um cadinho antes de perdermos o norte, né?" Magda fica imóvel e um pouco cabisbaixa. Joana, estranhando a amiga, chega-se ao pé e agarra-lhe as mãos: "Então, fofa, que se passa contigo? Preparámos um jantar, vamos ter as amigas e talvez uns gajos bons, porque ficáste assim de repente?" Magda vacila com o olhar entre a amiga e o chão: "Nada... é só que... nada, esquece." Joana não se fica: "Nada, esquece?! Achas que sim?" Joana segura mais forte as mãos de Magda: "Meu amor, vais-me contar o que se passa contigo e vais ficar bem, que temos uma festa pra curtir! Que foi? Conta-me." Magda não se demora: "Eu convidei-o." Joana confusa: "Convidáste-o? Quem?" Mas logo entende, arregalando os olhos: "O Patrick? Convidáste o Patrick?" Magda assenta com a cabeça. Joana espantada: "Porquê? Pensava que já o tinhas ultrapassado! Porque o convidáste? És louca?!" Magda: "Por isso mesmo, Joana! Ultrapassei-o, já não choro por ele, e quero provar-me isso a mim própria! Entendes? Afinal ele continua a ser um conhecido meu... um amigo, caramba! Não quero passar muito mais tempo a ser forte, como toda a gente me pede! Quero ser normal, por isso convidei-o e, se algo não me correr bem, sei que estás cá para me ajudar..." Joana reflecte nas palavras da amiga, depois abraça-a: "Ok, querida... Desculpa, tens razão... essa coisa de se ser forte para aguentar o fim de uma relação já farta. E sabes que mais? Estou contigo para te amparar, caso te vás abaixo quando ele chegar. Podes contar comigo, amiga..." Desfazendo o abraço e olhando-a nos olhos: "Vá, agora vamos tratar de vestir-nos, sim? Já arranjei a sala toda e pus a mesa. Só faltamos nós." Magda sorri. As duas dirigem-se para o quarto, quando a campainha toca. Joana vira em direcção à porta: "Vai lá vestir-te que eu abro a porta!"

Magda, entrando quarto adentro, fecha a porta atrás de si e começa a olhar para os conjuntos de roupa em cima da cama já preparados e seleccionados entre tantos do armário. Enquanto escolhia dos poucos já pré-seleccionados, repensa se fez bem em querer ver o ex para superar as dores do passado. Mas já não podia voltar atrás, pois de entre os ruídos de vozes que vinham do hall de entrada apercebeu-se logo da voz de Patrick. Joana entra de rompante no quarto: "Pronto, já pus o pessoal à vontade, agora sou eu que me vou vestir. O teu Patrick foi dos que veio neste primeiro grupo. Deve estar cheio de vontade de te ver!" E olhando para os conjuntos em cima da cama: "O que é que tens pra mim, querida?" Magda vira-se de costas, para Joana lhe correr o fecho do vestido que escolheu: "Qualquer um... escolhe. Se bem que eu gostava de te ver com esse vermelho. Veste lá..." Toca a campainha de novo. Joana: "Deixa estar, eu disse ao pessoal que entrou para tratarem do resto dos convidados. Eles arranjam-se. Vou vestir este, que tal?", colocando o vestido em frente ao corpo e vendo-se no espelho. Mas Magda não estava com a cabeça aí: "Eu vou lá! Que anfitriã seria eu se deixásse o outros tratar da entrada? Já venho..." E sai num ápice. Joana vira-se repentinamente: "Fogo... esta miúda tá mesmo acelerada...!"

A caminho da porta da entrada, Magda passa pela porta da sala e fica com o coração em sobressalto, quando por milésimos de segundo avistou Patrick sentado no sofá conversando com outros. Abre a porta a outra dúzia de convidados, indica-lhes atabalhoadamente a direcção da sala, e esgueira-se para a cozinha, onde enche nervosamente um copo de água e bebe. Ouve passos vindos do hall e, pensando serem os passos de Joana, desabafa, ainda de costas para a porta, vazando mais água no copo: "Acho que cometi um erro, Joana..." Mas era Patrick que, parando à entrada da cozinha, tenta desculpar-se: "Não sou a Joana, mas... posso-te ajudar com o erro?" Magda vira-se de repente, envergonhada da situação, que a deixa totalmente desnorteada: "Ãh?! Patrick! Olá! Tás bom? O quê? O erro? Não, nada! Esquece! É uma cena minha e da Joana! Tás bom? Queres tomar alguma coisa?" Patrick também ele não se sente à vontade: "Desculpa, não te queria perturbar, eu... se calhar vou voltar para a sala... ou se quiseres vou-me embora, e vemo-nos outro dia..." Magda começa a assentar as ideias, quando entra, cozinha adentro, um casal amigo de ambos. Diz ele: "Ei pessoal! Comé qué? Há farra ou não? Que é que estão a fazer aqui na cozinha? Magda, vou tirar um copo pra beber um golinho do excelente vinho que tens ali na sala, tá bem?" "Claro, tás à vontade, prateleira de cima...", responde-lhe Magda. Teresa desculpa-se do namorado: "Ele já veio aquecido do bar, Magda, sabes como é, né? E agora aturá-lo a noite toda? Só eu é que sei!" Entretanto, ambos Patrick e Magda atentam, surpresos, à caneca que o namorado de Teresa tira da prateleira. Tentando perceber se era da bebedeira ou se estava mesmo a ver bem, observa atentamente a caneca: "Ó pessoal... isto tá tudo rachado ó é impressão minha?! Porque é que não deitas isto pró lixo, Magda?" Instintivamente, Patrick exclama: "Não!!" e olha para Magda, transmitindo-lhe a visão da caneca, e lembrando-se de quatro anos antes, quando namoravam... aquela era a caneca oferecida por ele a ela, cor-de-rosa com um coração embutido representando o amor de ambos, mas mais tarde estilhaçada no chão entre discussões de uma relação a caminhar para a ruína. Aquela caneca estar ainda viva, ainda para mais recuperada pedacinho a pedacinho com cola, significou muito para ele naquele instante... Sentiu um misto de emoções no peito e, ignorando a presença do casal amigo, dirige-se a Magda: "Guardaste-a esta tempo todo? Pensava que já não existia...!"

Joana, vinda do quarto, entra ela também na cozinha e percebe o filme todo: "Ai... Só cá faltava esta... Patrick, por favor, vai para a sala, não comeces a baralhar a Magda." Mas Magda estava já mais segura de si: "Deixa, Joana, afinal era isto que eu queria, enfrentar a minha insegurança.", e vira-se para Patrick: "Sim, colei todos os pedacinhos e guardei-a porque, apesar de termos acabado mal, tivémos tempos bons, e eu quero lembrar-me das coisas boas, não por ti ou por nós, mas porque, fazendo parte da minha vida, não havia modo de apagar da minha mente, pelo que preferi cuidar dos meus sentimentos... e da caneca." Olham-se todos entre eles, esperando alguém falar... O bêbedo rompe o silêncio: "Ó iéééé!! Assim é que é! Nunca fizéste isto por mim, amor!" Responde-lhe Teresa: "Txii... Tinhas de ser o dobro de homem que és, para isso acontecer!" Patrick interrompe: "Magda, isso quer dizer que poderá eventualmente haver ainda algo entre nós?" Joana leva a mão à cara: "Ai Jesus..." Magda sorri com a reacção da amiga do peito e, virando-se para Patrick: "Isto quer dizer que eu superei os meus fantasmas, e sinto-me agora à vontade com a minha vida e os meus sentimentos, Patrick. Somente e nada mais. Espero que consigas o mesmo à tua maneira." Desencostando-se da bancada da cozinha, passa pelo namorado de Teresa, tira-lhe a caneca da mão, que tanto trabalho lhe deu a reconstruir e, caminhando para fora da cozinha: "Vá pessoal, vamos lá, que agora temos uma festa para curtir!"

20 de fevereiro de 2013

Bilhete de ida

Este é o resultado das sugestões da PepperGirl♥ e da béu. Obrigado meninas pelas ideias. Espero que esteja do vosso agrado.

"Mas porque é tão difícil para ti entenderes isso?!", perguntou-lhe Jaime quase em jeito de grito. Ela apenas olhou para trás, continuando a caminhar a passos largos para o terminal que fazia a última chamada dos passageiros para o vôo Lisboa - Paris. Cansara-se de explicar. Havia sido assim há já umas semanas, depois de acabarem namoro. Não valia a pena baterem na mesma tecla. E ambos sabiam disso. E sabiam que deviam afastar-se. O amigo deles, que os tinha acompanhado ao aeroporto, pôs a mão sobre o ombro de Jaime: "Deixa-a ir. Vocês precisam disto, sabes bem." Mas Jaime não suportava ver o que estava a acontecer. Soltando-se da mão de Artur, começou a correr em direcção à sua amada: "Sara! Espera!" O segurança barrou-lhe o caminho: "O seu bilhete?" Sara já havia entrado no corredor que levava ao avião. "Não tenho, só quero falar com a minha ex, que já entrou", respondeu Jaime apressadamente. "Lamento, senhor, não pode entrar", disse o segurança. Mas Jaime, assustado com o facto de Sara estar a segundos de levantar vôo e não mais a ver, agarrou o segurança pelos colarinhos e, com os olhos enraivecidos, gritou: "O que faria você se o seu amor estivesse a abandoná-lo?!" Surpreendido com a reacção, o guarda rapidamente pega no transmissor rádio que tinha à cintura e pede reforços urgentemente. Jaime desespera, larga o segurança, e corre pelo corredor adentro, em direcção ao avião. À porta estavam duas hospedeiras de bordo que, vendo Jaime enlouquecido em direcção a elas, exclamam, assustadas: "Calma, senhor! O seu bilhete?" Sem responder, Jaime passa por entre as duas, quase as derrubando, entra no corredor central e, não vendo Sara entre tanta gente sentada, grita o nome dela, quando entretanto já mais seguranças haviam entrado a bordo, agarrando Jaime pelos braços: "Você vem connosco para a esquadra!" Do fundo do avião, uma voz feminina: "Esperem por favor!" Aproximando-se de Jaime e dos seguranças, Sara continua: "Ele é meu amigo. Por favor não o magoem." Os guardas replicam: "Menina, este rapaz violou regras de segurança. Temos de agir." Vindo do cockpit, o comandante do avião, já experiente e de idade avançada, fala aos seguranças: "Deixem-nos entenderem-se. Por outras experiências, sei bem que será mais fácil assim para todos, e também só tenho de levantar vôo daqui a 10 minutos. Temos tempo." Os guardas olham-se, sem saber o que fazer, e deixam Jaime explicar-se, já a soltar as primeiras lágrimas: "Sara, eu não te quero chatear. Só queria perceber como posso ser teu amigo, porque não sei, e pelos vistos tu sabes, pois parece que não te custa..." Sara toma o seu tempo e, sempre mirando a profundidade dos olhos chorosos de Jaime, responde carinhosamente: "Não digas isso. Custa-me, Jaime. Custa-me a ponto de eu ter de ir para outro país para me distanciar de ti. Não vês o quanto me custa? O nosso amor não tem salvação... Eu tento ao menos salvar a nossa amizade, para ver se não enlouqueço. É isso o quanto me custa..." Como uma varinha de condão, as doces palavras de Sara acalmaram o coração de Jaime que, sorrindo dolorosamente, respondeu: "Obrigado, Sara... Estarei sempre aqui para o que precisares..." Sara sorriu e verteu ela também uma lágrima pelo rosto: "Eu sei que sim. Obrigado." Sabendo o que passava pela mente de ambos, Jaime relaxou, soltou-se dos seguranças, recuou pé ante pé, sempre olhando nos olhos de Sara, levou a sua própria mão aos lábios, e soprou-lhe um beijo. Sara agarrou o beijo com a mão e encostou-o ao peito, ainda mais sorrindente e de lágrima a escorrer. Os guardas perceberam que o problema havia acalmado, pelo que deixaram Jaime sair pelo seu próprio pé. Voltando ao interior da sala de espera do aeroporto, Artur corre ao seu encontro: "Então meu? Que se passou? Tás bem? E a Sara, onde tá?" Jaime pôs o braço sobre os ombros do amigo e, continuando a caminhar para a luz do dia fora do aeroporto: "Meu amigo... acho que compreendi a amizade..." Dizendo isto, convenceu-se ainda mais do sentimento que havia entre ele e Sara, e percebeu que nunca mais a perderia, apesar da distância a que iriam ficar.

14 de fevereiro de 2013

Feliz dia dos desnamorados

Não percebeste o porquê. Ainda havendo amor e carinho entre nós, a relação piorava de dia para dia. Agora que penso nisso, nem eu percebi porquê.
Sei que, largando tudo nesta vida, apenas resta o amor. Nada mais permanece, mas ele, o amor, não morre. Por mais que me odeies e eu te deteste, por mais que eu me zangue e tu me vires as costas... há amor. Tanto que nem sei se não é esse o problema. Talvez não saibamos lidar com ele. É como deus, do qual tanta gente fala. Onde está ele, quem é ele, porque não o vejo? Assim é o amor, maior que tudo o que existe e todos alcança.
Hoje estamos separados, longe do olhar um do outro, e queremo-nos juntos mais que tudo. E ainda assim, se nos juntarmos, tudo cai de novo. Trazemos vento ao castelo de cartas do amor... e este desaba. Ambos sabemos disso, mas não sabemos o porquê... Maldito amor que nos afasta. Bendito amor que nos une. Amor... hoje estou só, tu não sei com quem estás...

10 de fevereiro de 2013

Estavas lá

Quanto tenho de andar para até ti chegar? Naquela que era a floresta encantada, avançaste a passos largos para que eu te perdesse o norte... E conseguiste. Não mais te encontrei, mesmo continuando a procurar, atrás de árvores, debaixo de amontoados de folhas, atrás de arbustos... nada. Apenas o crepitar de alguns ramos que eu pisava e alguns chilreares perdidos nas folhagens davam o seu ar. Que momento e local errados para iniciares tal brincadeira, querida... Começo a perder a graça, o assunto torna-se sério... O sol já quase posto está. A luz diminui a ponto de eu quase nada ver. Começo a tactear cegamente, sentindo os troncos e as rochas esfriarem sem clemência. Dou passos cada vez mais curtos, por entre relevos estranhos a meus pés... ... até deixar de sentir o chão! Sem equilíbrio para recuar, nem nada a que me agarrar, uma sensação de vazio enorme em meu redor fez-me cair no que parecia ser um buraco sem fundo, escuro, e sem piedade! A sensação do vazio avassalou-me! Os meus gritos nem os ouvia, do sufocado que me sentia!
O impacto foi bruto, quando o chão alcancei! "Estou acabado", pensei. Lentamente fui abrindo os olhos... e flectindo os braços para levantar o corpo do chão... de madeira, pelos vistos. Olho em frente, uma mesinha de cabeceira... Olho à direita, uma cama... com um lençol ainda esticado até à minha cintura...
"Voltaste a ter um pesadelo, tontinho?" - perguntas-me tu, deitada de lado, destapada pelo lençol que puxei para o chão, e com um sorriso gozão na cara: "Vem cá que eu acalmo-te." Começando eu a pôr o cérebro no sítio, ainda com os olhos semicerrados, subi lento de moleza para a cama, agarrei-me ao teu colo, e silenciosamente agradeci ter-te encontrado! Voltei a adormecer, feliz da vida, enquanto me fazias festinhas, abraçada a mim. Assim vale a pena cair...

8 de fevereiro de 2013

O comando é teu

Senti-me mais normal que o normal dos dias. A chaleira assobiava ao lume, a janela deixava entrar uma brisa sorrateira que me afagava o cabelo, enquanto eu reflectia sobre o que quererias dizer com a conversa de ontem... Mas não me permitiste alongar a reflexão. Num estrondo que me fez virar de imediato, arrombaste a porta e, com a mesma velocidade com que o fizeste, só paraste diante do meu nariz, de indicador direito em riste.
- Não há mais disso entre nós, ouviste?!
A violência do argumento foi tanta, que nem deu oportunidade ao meu raciocínio responder. Mulher séria e apaixonada que és, ternurenta, quente e amiga, não baixaste a mão, esperando a minha resposta. Mas eu estava petrificado. Longas têm sido as nossas aventuras e amores, sério o nosso caso. O teu cabelo solto, os teus lábios definidos, os teus olhos profundos, sempre me agarraram o intelecto. Eu nunca te quis magoar, mas tens razão... ontem elevei a voz só porque... não sei, talvez te estivesse a pôr à prova inconscientemente. Sim, porque depois disso julguei-me, e condenei-me.
- Eu...
Nada mais disse, porque nada mais me ocupava o cérebro. Aproximei lentamente os meus lábios aos teus, tu deixaste, o calor foi partilhado, os movimentos doces surgiram.
- Espero que tenhas juízo! - disseste tu, descolando os lábios dos meus, dando meia volta, e saíndo por onde entraste.
Permaneci de boca entreaberta, tal qual a posição do beijo em que me deixaste... O meu pensamento reestruturou-se e, se já te amava, apaixonei-me. Dizem que a paixão antecede o amor. Tu inverteste-me o processo.