20 de fevereiro de 2013

Bilhete de ida

Este é o resultado das sugestões da PepperGirl♥ e da béu. Obrigado meninas pelas ideias. Espero que esteja do vosso agrado.

"Mas porque é tão difícil para ti entenderes isso?!", perguntou-lhe Jaime quase em jeito de grito. Ela apenas olhou para trás, continuando a caminhar a passos largos para o terminal que fazia a última chamada dos passageiros para o vôo Lisboa - Paris. Cansara-se de explicar. Havia sido assim há já umas semanas, depois de acabarem namoro. Não valia a pena baterem na mesma tecla. E ambos sabiam disso. E sabiam que deviam afastar-se. O amigo deles, que os tinha acompanhado ao aeroporto, pôs a mão sobre o ombro de Jaime: "Deixa-a ir. Vocês precisam disto, sabes bem." Mas Jaime não suportava ver o que estava a acontecer. Soltando-se da mão de Artur, começou a correr em direcção à sua amada: "Sara! Espera!" O segurança barrou-lhe o caminho: "O seu bilhete?" Sara já havia entrado no corredor que levava ao avião. "Não tenho, só quero falar com a minha ex, que já entrou", respondeu Jaime apressadamente. "Lamento, senhor, não pode entrar", disse o segurança. Mas Jaime, assustado com o facto de Sara estar a segundos de levantar vôo e não mais a ver, agarrou o segurança pelos colarinhos e, com os olhos enraivecidos, gritou: "O que faria você se o seu amor estivesse a abandoná-lo?!" Surpreendido com a reacção, o guarda rapidamente pega no transmissor rádio que tinha à cintura e pede reforços urgentemente. Jaime desespera, larga o segurança, e corre pelo corredor adentro, em direcção ao avião. À porta estavam duas hospedeiras de bordo que, vendo Jaime enlouquecido em direcção a elas, exclamam, assustadas: "Calma, senhor! O seu bilhete?" Sem responder, Jaime passa por entre as duas, quase as derrubando, entra no corredor central e, não vendo Sara entre tanta gente sentada, grita o nome dela, quando entretanto já mais seguranças haviam entrado a bordo, agarrando Jaime pelos braços: "Você vem connosco para a esquadra!" Do fundo do avião, uma voz feminina: "Esperem por favor!" Aproximando-se de Jaime e dos seguranças, Sara continua: "Ele é meu amigo. Por favor não o magoem." Os guardas replicam: "Menina, este rapaz violou regras de segurança. Temos de agir." Vindo do cockpit, o comandante do avião, já experiente e de idade avançada, fala aos seguranças: "Deixem-nos entenderem-se. Por outras experiências, sei bem que será mais fácil assim para todos, e também só tenho de levantar vôo daqui a 10 minutos. Temos tempo." Os guardas olham-se, sem saber o que fazer, e deixam Jaime explicar-se, já a soltar as primeiras lágrimas: "Sara, eu não te quero chatear. Só queria perceber como posso ser teu amigo, porque não sei, e pelos vistos tu sabes, pois parece que não te custa..." Sara toma o seu tempo e, sempre mirando a profundidade dos olhos chorosos de Jaime, responde carinhosamente: "Não digas isso. Custa-me, Jaime. Custa-me a ponto de eu ter de ir para outro país para me distanciar de ti. Não vês o quanto me custa? O nosso amor não tem salvação... Eu tento ao menos salvar a nossa amizade, para ver se não enlouqueço. É isso o quanto me custa..." Como uma varinha de condão, as doces palavras de Sara acalmaram o coração de Jaime que, sorrindo dolorosamente, respondeu: "Obrigado, Sara... Estarei sempre aqui para o que precisares..." Sara sorriu e verteu ela também uma lágrima pelo rosto: "Eu sei que sim. Obrigado." Sabendo o que passava pela mente de ambos, Jaime relaxou, soltou-se dos seguranças, recuou pé ante pé, sempre olhando nos olhos de Sara, levou a sua própria mão aos lábios, e soprou-lhe um beijo. Sara agarrou o beijo com a mão e encostou-o ao peito, ainda mais sorrindente e de lágrima a escorrer. Os guardas perceberam que o problema havia acalmado, pelo que deixaram Jaime sair pelo seu próprio pé. Voltando ao interior da sala de espera do aeroporto, Artur corre ao seu encontro: "Então meu? Que se passou? Tás bem? E a Sara, onde tá?" Jaime pôs o braço sobre os ombros do amigo e, continuando a caminhar para a luz do dia fora do aeroporto: "Meu amigo... acho que compreendi a amizade..." Dizendo isto, convenceu-se ainda mais do sentimento que havia entre ele e Sara, e percebeu que nunca mais a perderia, apesar da distância a que iriam ficar.

14 de fevereiro de 2013

Feliz dia dos desnamorados

Não percebeste o porquê. Ainda havendo amor e carinho entre nós, a relação piorava de dia para dia. Agora que penso nisso, nem eu percebi porquê.
Sei que, largando tudo nesta vida, apenas resta o amor. Nada mais permanece, mas ele, o amor, não morre. Por mais que me odeies e eu te deteste, por mais que eu me zangue e tu me vires as costas... há amor. Tanto que nem sei se não é esse o problema. Talvez não saibamos lidar com ele. É como deus, do qual tanta gente fala. Onde está ele, quem é ele, porque não o vejo? Assim é o amor, maior que tudo o que existe e todos alcança.
Hoje estamos separados, longe do olhar um do outro, e queremo-nos juntos mais que tudo. E ainda assim, se nos juntarmos, tudo cai de novo. Trazemos vento ao castelo de cartas do amor... e este desaba. Ambos sabemos disso, mas não sabemos o porquê... Maldito amor que nos afasta. Bendito amor que nos une. Amor... hoje estou só, tu não sei com quem estás...

10 de fevereiro de 2013

Estavas lá

Quanto tenho de andar para até ti chegar? Naquela que era a floresta encantada, avançaste a passos largos para que eu te perdesse o norte... E conseguiste. Não mais te encontrei, mesmo continuando a procurar, atrás de árvores, debaixo de amontoados de folhas, atrás de arbustos... nada. Apenas o crepitar de alguns ramos que eu pisava e alguns chilreares perdidos nas folhagens davam o seu ar. Que momento e local errados para iniciares tal brincadeira, querida... Começo a perder a graça, o assunto torna-se sério... O sol já quase posto está. A luz diminui a ponto de eu quase nada ver. Começo a tactear cegamente, sentindo os troncos e as rochas esfriarem sem clemência. Dou passos cada vez mais curtos, por entre relevos estranhos a meus pés... ... até deixar de sentir o chão! Sem equilíbrio para recuar, nem nada a que me agarrar, uma sensação de vazio enorme em meu redor fez-me cair no que parecia ser um buraco sem fundo, escuro, e sem piedade! A sensação do vazio avassalou-me! Os meus gritos nem os ouvia, do sufocado que me sentia!
O impacto foi bruto, quando o chão alcancei! "Estou acabado", pensei. Lentamente fui abrindo os olhos... e flectindo os braços para levantar o corpo do chão... de madeira, pelos vistos. Olho em frente, uma mesinha de cabeceira... Olho à direita, uma cama... com um lençol ainda esticado até à minha cintura...
"Voltaste a ter um pesadelo, tontinho?" - perguntas-me tu, deitada de lado, destapada pelo lençol que puxei para o chão, e com um sorriso gozão na cara: "Vem cá que eu acalmo-te." Começando eu a pôr o cérebro no sítio, ainda com os olhos semicerrados, subi lento de moleza para a cama, agarrei-me ao teu colo, e silenciosamente agradeci ter-te encontrado! Voltei a adormecer, feliz da vida, enquanto me fazias festinhas, abraçada a mim. Assim vale a pena cair...

8 de fevereiro de 2013

O comando é teu

Senti-me mais normal que o normal dos dias. A chaleira assobiava ao lume, a janela deixava entrar uma brisa sorrateira que me afagava o cabelo, enquanto eu reflectia sobre o que quererias dizer com a conversa de ontem... Mas não me permitiste alongar a reflexão. Num estrondo que me fez virar de imediato, arrombaste a porta e, com a mesma velocidade com que o fizeste, só paraste diante do meu nariz, de indicador direito em riste.
- Não há mais disso entre nós, ouviste?!
A violência do argumento foi tanta, que nem deu oportunidade ao meu raciocínio responder. Mulher séria e apaixonada que és, ternurenta, quente e amiga, não baixaste a mão, esperando a minha resposta. Mas eu estava petrificado. Longas têm sido as nossas aventuras e amores, sério o nosso caso. O teu cabelo solto, os teus lábios definidos, os teus olhos profundos, sempre me agarraram o intelecto. Eu nunca te quis magoar, mas tens razão... ontem elevei a voz só porque... não sei, talvez te estivesse a pôr à prova inconscientemente. Sim, porque depois disso julguei-me, e condenei-me.
- Eu...
Nada mais disse, porque nada mais me ocupava o cérebro. Aproximei lentamente os meus lábios aos teus, tu deixaste, o calor foi partilhado, os movimentos doces surgiram.
- Espero que tenhas juízo! - disseste tu, descolando os lábios dos meus, dando meia volta, e saíndo por onde entraste.
Permaneci de boca entreaberta, tal qual a posição do beijo em que me deixaste... O meu pensamento reestruturou-se e, se já te amava, apaixonei-me. Dizem que a paixão antecede o amor. Tu inverteste-me o processo.