8 de fevereiro de 2013

O comando é teu

Senti-me mais normal que o normal dos dias. A chaleira assobiava ao lume, a janela deixava entrar uma brisa sorrateira que me afagava o cabelo, enquanto eu reflectia sobre o que quererias dizer com a conversa de ontem... Mas não me permitiste alongar a reflexão. Num estrondo que me fez virar de imediato, arrombaste a porta e, com a mesma velocidade com que o fizeste, só paraste diante do meu nariz, de indicador direito em riste.
- Não há mais disso entre nós, ouviste?!
A violência do argumento foi tanta, que nem deu oportunidade ao meu raciocínio responder. Mulher séria e apaixonada que és, ternurenta, quente e amiga, não baixaste a mão, esperando a minha resposta. Mas eu estava petrificado. Longas têm sido as nossas aventuras e amores, sério o nosso caso. O teu cabelo solto, os teus lábios definidos, os teus olhos profundos, sempre me agarraram o intelecto. Eu nunca te quis magoar, mas tens razão... ontem elevei a voz só porque... não sei, talvez te estivesse a pôr à prova inconscientemente. Sim, porque depois disso julguei-me, e condenei-me.
- Eu...
Nada mais disse, porque nada mais me ocupava o cérebro. Aproximei lentamente os meus lábios aos teus, tu deixaste, o calor foi partilhado, os movimentos doces surgiram.
- Espero que tenhas juízo! - disseste tu, descolando os lábios dos meus, dando meia volta, e saíndo por onde entraste.
Permaneci de boca entreaberta, tal qual a posição do beijo em que me deixaste... O meu pensamento reestruturou-se e, se já te amava, apaixonei-me. Dizem que a paixão antecede o amor. Tu inverteste-me o processo.

1 comentário:

  1. "O meu pensamento reestruturou-se e, se já te amava, apaixonei-me. Dizem que a paixão antecede o amor. Tu inverteste-me o processo."

    Das coisas mais bonitas que li nos últimos tempos.

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