24 de maio de 2013

Finest hour

No episódio anterior: Diego é dispensado das suas funções. Apressa-se ao encontro da colega, no hospital, onde encontra a criança que havia salvo anteriormente. Jéssica está em estado de coma. Diego e o rapaz, que agora se sabe chamar-se Chico, ficam numa situação de alarme, pelas informações dadas por uma paciente acamada. Alguém mal intencionado pode estar a caminho da sala onde se encontram...


episódio 3º

   A porta parou a meio da abertura, o que fez Diego franzir as sobrancelhas. Estaria alguém indeciso acerca de entrar naquela sala? Mas um polícia de elite não se pode dar ao luxo de aguardar os movimentos do inimigo. "Se tem margem de manobra, deve agir!", aprendera na instrução avançada. Numa ação pensada em milésimos de segundo, Diego eleva o joelho em direção à porta, estica a perna e dá um forte empurrão nesta, que gira violentamente para o lado de fora da sala, levando consigo o que estava por trás. Diego lança-se ao corpo que foi projetado para o corredor, antes que se pudesse levantar, aplica-lhe pressão com os dedos da mão sobre um ponto vital no pescoço e nem lhe dá tempo de gemer:
   - Quem é você?! O que quer desta sala?
   O homem, do jeito vigorosamente preso que estava por Diego, nem conseguia responder. Os seus canais respiratórios, apertados pela mão do agente, não conseguiam emitir som, e a cor da sua pele começava a tornar-se vermelha, com as veias do rosto a incharem. O homem apenas conseguiu levantar o braço a esforço para agitar o cartão que tinha agarrado à lapela da farda, o que atraiu a visão de Diego, que observou o gesto, retirou de imediato a pressão sobre o pescoço do homem e levantou-se:
   - As minhas desculpas, senhor doutor! Pensei que fosse outra pessoa. Lamento.
   O médico, um pouco atordoado, levanta-se ajudado pela mão de Diego:
   - Outra pessoa?! Como quem, por exemplo? Um assassino assaltante de hospitais? Que raio de forma é essa de receber uma pessoa? Quem iria entrar aqui que necessitasse deste ataque que você me fez? - afaga com a mão a zona do pescoço atacada por Diego - Caramba, homem...
   - Lamento imenso, mas não podia arriscar. Segundo uma senhora que está ali acamada, sim, poderia ser um malfeitor.
   - Qual senhora? A dona Maria? Só podia ser... Meu amigo, essa senhora tem problemas para além de físicos. Ela pensa que todo o mundo pode atacar a qualquer instante... Não acredite em tudo o que ela diz...
   - Ai sim...? - Diego, perante esta informação, fica um tanto ou quanto envergonhado pelas suas ações - Pois... lamento de novo, doutor, não sabia, peço desculpa.
   - Você é colega de trabalho da Jéssica e veio cá vê-la, certo?
   - Exacto. Sou o Diego, e lá dentro está o Chico, um rapaz que veio comigo. Diga-me, doutor, quanto tempo vai a Jéssica permanecer em coma? Quando é que ela desperta? É muito grave?
   - Sabe... por mais que a medicina evolua, o funcionamento do cérebro humano permanecerá um mistério. A sua colega foi vítima de uma bala projetada contra o tórax, e atingiu o pulmão direito. Felizmente não atingiu o coração ou qualquer artéria mais importante. Foi uma hemorragia simples de estancar, e os seus tecidos estão em fase de recuperação. Nada supunha que a levasse a este estado, por isso lhe disse que o cérebro é um mistério. Diga-me, sabe se foi a primeira vez que ela sofreu o impacto de uma bala?
   - Tenho a certeza. Trabalha há anos comigo e nunca foi atingida. Foi a primeira vez, sim.
   - Terá sido então o susto, concerteza. Segundo os paramédicos da ambulância que foi ao vosso encontro, ela estava já neste estado. Decerto optou inconscientemente por "se desligar" - gesticulou com os dedos o símbolo das aspas - como defesa ao medo. O tempo que levará a despertar será da responsabilidade dela, agora.
   O médico deixou as palavras assentarem na mente de Diego e, sabendo nada mais poder adiantar:
   - Vou então deixá-lo que volte ao quarto, sim? O que vim aqui fazer já fiz, que era falar consigo, agora tenho outro compromisso noutra ala do hospital, com licença...
   Diego, pensativo, mas em nada pensando, regressa lentamente ao quarto:
   - Chico, podes sair daí debaixo, não há nenhum mau aqui. - volta a posicionar-se ao lado da cama de Jéssica, levanta a mão ao nível do rosto da colega deitada e acaricia o seu cabelo, enquanto murmura suavemente: - Jéssica, tu estás bem. Porque não despertas...?
   Chico, já de pé e ao lado de Diego, olha para este e sente compaixão e afecto sairem dos olhos do agente em direção à colega:
   - Você gosta dela, não gosta?
   Diego gira a cabeça na direção do rapaz:
   - Às vezes queria gostar mais do que posso demonstrar, sabes... Mas não posso misturar o meu trabalho com sentimentos... - vira-se para o rapaz e estica-lhe a mão, à espera da dele - Vamos, a Jéssica precisa descansar... - começaram a andar em direção à porta.
   - Fiquem... - volta a reiterar a idosa acamada, quando Diego e Chico passam por ela.
   - Minha senhora, aqui ninguém faz mal a ninguém. Descanse... - tenta Diego acalmá-la uma última vez.
   - Pobre menina... aí deitada... ela confiou em... mim, e eu vou falhar...
   Diego acha aquelas palavras da senhora tão reais, mas sabe serem problemas mentais, segundo informação do médico.
   - Às vezes não me importaria de estar noutra realidade, como esta senhora... - Diego desabafa a Chico, enquanto saiem pela porta - Agora voltemos a ti, miúdo. Que idade tens? Onde moras? - enquanto percorriam os corredores de volta à entrada principal do hospital.
   - Tenho nove anos... - A resposta à pergunta seguinte saiu a custo - Moro... por aí. - e silenciou-se.
   Diego sente o embaraço do rapaz, desacelera o passo, e dobra os joelhos, baixando-se ao nível dos olhos de Chico:
   - Não tens casa, é isso que estás a dizer? Onde estão os teus pais? A tua família?
   - ... não sei... Nunca tive família...
   - Chico, tu estás bem vestido e não estás sujo. Quem te põe assim?
   - Um lar de adopção de crianças. Mas eu não gosto. Vou lá de vez em quando, mas fujo.
   Diego fica boquiaberto. Instantes depois levanta-se e continua caminho em direção à saída do hospital, com a mão do miúdo agarrada à sua:
   - Vamos ver o que podemos fazer por ti, Chico. Tens de ter estabilidade. Eu tenho uns dias livres, ficas comigo entretanto. Assim a vaguear não terás um futuro decente. Onde é esse lar onde estás? Preciso de os informar.
   - É do outro lado da cidade. Ao pé do aeroporto.
  O sol encandeia-os na rua, dado o contraste com a luz serena do hospital de onde acabam de sair. Ainda assim, Diego consegue notar o olhar de um transeunte com cara de poucos amigos que por ele se cruza em direção oposta, hospital adentro. Por meio segundo, entreolham-se, e Diego sente algo que não sabe explicar, mas que foi um dos factores que o levou até tão longe no seu trabalho de agente especial. A expressão que viu no rosto do desconhecido alertara a sua mente preparada. Mas Diego sabia que andava nervoso, e podia não ser nada demais. A velha ao lado de Jéssica podia ter razão, mas o médico dissera que eram tudo ilusões. A mente de Diego encontra-se num cruzamento de suspeitas.
   - Raios! - queixa-se Diego, sabendo que a consciência não o deixaria tranquilo. Baixa-se ao nível do rapaz, aponta para um jardim e diz:
   - Chico, senta-te naquele banco de jardim e espera até eu voltar! - o rapaz nem teve tempo de responder, Diego solta a sua mão e volta acelerado para a entrada do hospital.
   Tudo poderá ser cansaço acumulado... Tudo poderá ser real... Mas Diego não concorda ser o destino a decidir. Ele próprio precisa agir, pese embora o facto de ter sido dispensado das suas funções. Mas há coisas mais valiosas que o seu estimado trabalho... Jéssica. Ela provocava batimentos fortes no seu coração, coisa que ele apenas começava a perceber agora...



Não percas o próximo episódio...

15 de maio de 2013

Finest hour

No episódio anterior: Agentes especiais Jéssica e Diego confrontam um criminoso que ameaça uma criança. Jéssica precipita-se e é baleada. Diego vinga a colega e dispara sobre o bandido, matando-o e libertando a criança. Diego desespera pela chegada de ajuda médica enquanto Jéssica perde as forças...


episódio 2º

   - ...e portanto, meus caros, é trabalho chato, mas imprescindível ser feito, o de preencher papelada interna, pois ajuda a manter-nos coesos em nossas ações. Muitos de nós já o sabemos por experiência própria, mas é sempre bom recordar. E agora vão às vossas vidas, que eu tenho mais que fazer.
   Terminava assim o chefe mais um discurso dirigido aos agentes presentes, veteranos e iniciados, enquanto ajeitava as folhas que usara como memorando para o que tinha dito. Olhou de relance para Diego, que estava sentado no canto do fundo da sala, e ainda o único presente. Já todos haviam saído, numa algazarra de conversas. O chefe aproxima-se de Diego:
   - O que é que apanhaste do que eu disse?
   Diego levanta os olhos em direção ao chefe, mas sem mover a cabeça, totalmente alheio ao discurso anterior. Levanta os ombros e faz um trejeito com os lábios, como quem diz não sei. O chefe não tem dúvidas:
   - Está decidido: vais uma semana de licença para onde quiseres. Aqui assim não me vales muito. Nem a ti próprio, bem sabes.
   - Como assim, chefe? Sabe que sou o mais dedicado e não falho uma chamada. Por não ter estado atento hoje, retira-me logo as funções?! Sabe bem que eu nem preciso sequer destas informações sobre escritos internos, faço-os a todos!
   - E tu sabes bem que não é esse o problema... e sabes bem que não estarás com os reflexos a cem por cento lá fora, numa qualquer situação de perigo. Estás muito entranhado no acontecido com a Jéssica. Precisas descansar. Vai, é uma ordem. E deixa a arma no armazém, não estás em condições de andar armado.
   Diego nunca havia perdido o controle às suas emoções, mas agora sabia que o chefe tinha razão.
   - Dois dias, chefe. É suficiente. Pode contar comigo.
   - O tempo que for preciso, Diego, não tenhas pressa. Relaxa-me esses neurónios...
   Uns breves momentos pensativo, Diego consente e sai. Deixa a arma com o responsável de armazém e sai em passo rápido para a rua, assobia com vigor a um táxi, que pára em sua frente, e entra para o banco de trás:
   - Hospital Central, rápido!
   Habituado às pressas de polícias, o taxista apenas responde "sim, senhor!" e mete prego a fundo. Dez minutos depois, quase do outro lado da cidade e após vários semáforos vermelhos passados:
   - Fique com o troco! - diz Diego enquanto abre a porta e sai em passo rápido para a entrada principal do hospital, sem sequer reparar que havia deixado uma nota de cinquenta para o valor de sete indicado no taxímetro. Entra hospital adentro, perscruta com o olhar de um lado ao outro, vê o balcão de informações à esquerda, dirige-se à senhora por detrás deste e, antes sequer de pousar as mãos no balcão, exclama:
   - Jéssica Sands!
   - Perdão, senhor?
   - A minha colega, veio para este hospital, com um ferimento de bala, Jéssica Sands! Onde está?
   - Ah, concerteza... Lamento senhor, mas a esta hora não podem entrar visitas. Mais trinta minutos. Pode esperar na salinha aqui ao lado...
   Diego mostra-se impaciente, mas decide acalmar. Afinal era só mais meia hora. Olha para o lado, vê duas largas portas abertas a dividir a sala de espera do local de entrada onde estava e dirige-se para lá. Vê algumas pessoas sentadas, encontra uma cadeira vaga e senta-se, não reparando em quem estava ao lado:
   - Senhor...
Diego vira a cabeça para o lado e vê uma criança, com os seus nove anos:
   - Obrigado...
Subitamente Diego reconhece a criança que salvou dos braços do criminoso dois dias antes:
   - Miúdo! Estás aqui...! Que fazes aqui? Porque não estás com a tua família? - foi uma rajada de perguntas agressivas, pensou Diego por momentos - Desculpa, antes de mais, como te chamas? Não cheguei a saber o teu nome.
   - Pode-me chamar Chico. É como os meus amigos me chamam. Vim cá ver a senhora polícia que, consigo, me salvou. Eu sabia que ela estava aqui. Estou à espera.
   - Ok, Chico. Eu sou o Diego. - apertou-lhe a mão com um sorriso sincero - Então vamos os dois, eu também vim ver a Jéssica. - Diego põe a mão sobre o ombro do rapaz e sorri carinhosamente - É o nome dela, sabes? Acho que vai gostar de te ver. Estás aqui há muito tempo?
   Chico não teve tempo de responder. Uma voz vinda dos altifalantes anunciava a hora das visitas poderem entrar nos quartos dos respectivos visitados. Diego levanta-se e pega na mão de Chico:
   - Anda, depois acabamos a nossa conversa. Vamos ver como está a Jéssica.
   Uns corredores e curvas depois avistam o quarto de cuidados intensivos onde estaria Jéssica, segundo a senhora do balcão de  informações, à qual Diego perguntou quando lá passou de novo ao sair da sala de espera com Chico. Mas a escassos metros da porta ambos se assustam com o abrir repentino desta. Uma enfermeira acaba de sair lá de dentro e, vendo que Diego e Chico para lá se dirigem, informa-os:
   - Vêm de visita? Peço-vos que não façam barulho. A menina Jéssica ainda se encontra em estado inconsciente e com diagnóstico reservado. - vira-se para Diego - Se quiser chamo o doutor para vir falar consigo...
   - Agradecia que o fizesse, então. Obrigado.
   A enfermeira prossegue caminho na direção por onde Diego e Chico vinham, enquanto estes se entreolham, como que para darem força um ao outro antes da entrada no quarto da colega e amiga. Diego inspira fundo, pega na mão de Chico, viram-se ambos para a porta, e empurram-na. A primeira vista que têm é de uma senhora idosa na cama, ligada a soro. Jéssica encontrava-se deitada na cama seguinte, paralela a esta. Cumprimentaram com um "boa tarde" a senhora idosa, que se encontrava acordada e que igualmente respondeu, contornaram-na, e chegaram-se à cama de Jéssica. Estava com um ar calmo e tranquilo, como se de apenas um leve sono se tratasse. Contemplaram o seu rosto durante uns segundos em silêncio, quebrado logo após pela lenta e fraca voz da senhora deitada ao lado:
   - Não a... deixem...
Ambos Diego e Chico viram a cabeça para trás, com uma expressão inquisidora. Pergunta Diego:
   - Como, minha senhora?!
   - Não a deixem... ele pode... voltar....
   - Quem pode voltar? De que fala a senhora? Você está bem?
   - Eu... não interesso... a menina que está aí contou-me... coisas... e alguém veio... cá. Com más intenções... Fiquem... não vão.
   Diego, com a sua experiência em psicologia criminosa, começa a ver um padrão coerente no que a senhora relata, e tenta ajudá-la a dar-lhe mais indícios:
   - Calma, senhora. Eu estou aqui, ninguém vai fazer mal a ninguém. Agora, conte-me devagar, a seu tempo... Você disse que a Jéssica lhe falou? Quer dizer que ela esteve consciente?
   - A menina despertou... uns minutos, sim. Durante esta noite... que passou. Mas não tinha forças. Pediu-me um favor antes de... um homem ruim entrar... aqui. Eu não sei... quando ele voltará... fiquem... receio que...
   Antes que a senhora terminasse a frase, Diego começa a ouvir de longe uns passos pelo corredor que se aproximavam do quarto onde se encontravam. A sua mente preparada para o perigo calcula todos as ações possíveis e questiona rapidamente a senhora:
   - Você tem a certeza do que está a dizer?
   Os passos chegavam cada vez mais perto...
   - Sim... proteja essa menina...
   - Chico, vai p'ra baixo da cama já! Fica aí e não saias! - vira-se para a senhora - A senhora feche os olhos e finja-se de adormecida! - dizendo isto, salta ele próprio até à porta, encosta-se à parede, e tenta acalmar a respiração, que o denunciaria caso não a conseguisse controlar. Mas não estava a ser fácil. Se o que a senhora dissera fosse verdade, poderia muito bem ser alguém mal intencionado que se estava dirigindo ao quarto. E Diego estava fora de licença, e sem arma. É certo que tinha muito preparação corpo a corpo, mas neste momento reparara na falta que a arma lhe fazia, tornava-o menos confiante.
   Ainda com a respiração ofegante, fecha os punhos, olha de soslaio para debaixo da cama de Jéssica, onde está Chico, que lhe sorri a medo, volta a olhar para a porta, e prapara-se para a inevitável abertura desta, a escassos segundos de acontecer...
   Os passos ouvem-se mais lentos...
   Diego franze as sobrancelhas, aperta mais firmemente os punhos...
   A porta começa a abrir-se devagar...



Não percas o próximo episódio...

1 de maio de 2013

Finest hour


episódio 1º

   - Em baixo, já! Não volto a repetir!
   Mas o criminoso não dava o braço a torcer, mantendo a arma apontada ao refém. A agente especial Jéssica começava a dar indícios de nervosismo, começando a escorrer uma gota de suor pelo lado esquerdo do seu rosto, nunca desviando a mira do bandido. Diego fica preocupado ao sentir nervosismo na colega:
   - Que estás a fazer, Jéssica? Mantém-te no protocolo! Ele vai ceder, sabes disso! Não ponhas a operação em risco!
   A distância de 15 metros entre os agentes e o bandido era suficiente para Diego falar com a colega, tentando incutir-lhe calma, sem que o criminoso ouvisse:
   - Escuta, o reforço vem a caminho. Conseguimos sem problemas aguentar este tipo, ou mesmo forçá-lo a desistir. Não te ponhas com ideias. Sabes que isso não vai ficar bem no teu relatório!
   Mas algo mais profundo afectava Jéssica, que começava a tornar a sua respiração ofegante e a tremer os lábios como que a impedir um choro:
   - Aquela criança não tem culpa nenhuma... Não posso deixar que ele leve a melhor. E protocolos não se preocupam com isso.
   - Que estás a dizer, Jéssica?! Estás a ficar fora de ti. Por favor, estabiliza-te. Eu não posso fazer isto sozinho! Se ignorares o protocolo é que isto dá para o torto! Somos dois, ele é um, não vai ter coragem de disparar...
   - Mas a cada segundo que passa, aquele menino sofre mais... Não posso deixar isso. Perdoa-me, Diego... tenho de agir!
   - NÃO!!!!! - Diego, sobressaltado, vê a colega levantar os braços, deixar cair a arma, e dirigir-se lentamente em direcção ao bandido. - Jéssica pára! Volta para trás, estás a descoberto, queres morrer?! Não faças isso!
   Tarde demais. Como que em câmera lenta, Jéssica vê o mundo em volta enevoar-se, o chão a aproximar-se da sua vista, e o corpo a perder sensibilidade. Diego, perdendo o norte à calma, vendo a colega cair, não hesita e dispara todas as balas dentro da sua pistola em menos de três segundos contra o inimigo, numa raiva desenfreada.
   A névoa dos disparos paira durante breves segundos... Com o silêncio posterior, deixando a calma voltar ao seu cérebro, Diego repara que a criança se encontra livre dos braços do bandido, estando este caído numa poça de sangue. Acertara em cheio, como que por milagre, não ferindo a criança.
   - Jéssica...? - questiona Diego ao chegar perto da colega, desviando-lhe o cabelo dos olhos, que assim ficou, quando caiu ao chão. Jéssica murmura com dificuldade:
   - A criança... está bem?...
   - Está, não te preocupes. Aguenta um pouco e não gastes a tua energia a falar. A ambulância deve estar a chegar com os reforços.
   - Desculpa, não consegui evitar... Vi-me naquela situação...
   - O quê...? Qual situação? Não conseguiste evitar o quê?
   - Ver a  criança aterrorizada nos braços daquele desgraçado... Aconteceu-me em miúda... Pensava que já tinha superado, mas hoje voltou tudo ao de cima... desculpa...
   Diego começa a perceber porque Jéssica costumava abrandar o seu pensamento perante imagens de crianças sob ataque nas reuniões da sua equipa, e lamenta-se ele próprio de não ter percebido antes.
   - Não faz mal, Jéssica. Ninguém é de ferro. Todos temos fraquezas. Agora por favor aguenta um pouco, está quase aí a ajuda.
Sirenes começaram a ouvir-se ao longe, o que não aliviou o stress de Diego:
   - Raios, porque demoram tanto!? - disse entre dentes, virando a cabeça para o lado, para que Jéssica não ouvisse.
   - Espero que continues um bom polícia, Diego. Sempre admirei o teu trabalho. Faz isso por mim...
   - Que estás a dizer? Não o conseguiria sem ti! Aguenta por favor, Jéssica, não te deixes ir!!...
   As sirenes aproximavam-se, e as pálpebras de Jéssica desciam...



Não percas o próximo episódio...