17 de julho de 2015

Mas nunca mais voltes!

Eu amo-te, quero-te mais que tudo! Desde o dia que me convenceste a levantar-me do banco de jardim onde lia um romance, para que te acompanhasse ao café e tomarmos um "drink" por tua conta. Desde que me falaste com essa tua voz calma e absorvente, entranhando-me pelos ouvidos, com pura leveza e encanto. Desde que me levaste a tantos lugares onde eu já fora, mas que os tornaste novos para mim, com a tua forma sublime de ver as coisas. Desde então, meu supremo amor, que te quero! Tanto que não consigo descrever. Tanto que nem cabe na traqueia, para que me chegue à boca, as palavras do que sinto por ti, vindas do centro do meu coração. Jamais imaginei existir tamanha alegria de amar! Que esplendor recrias em mim. Mais e mais! Ao ponto de fraquejar de paixão só de te ver ao longe, caminhando na minha direcção... Quase morro, de o meu coração perder o norte e palpitar desmesuradamente, de te ter encostado a mim. Portanto, vês, meu mais que tudo... Não me mates... Fica longe!


22 de fevereiro de 2015

Dreamzzz...

No episódio anterior, Cátia recupera de um susto que lhe valeu uma ida ao hospital. Verónica ajuda-a e ambas vão até uma creperia para desanuviar. Com o melhorar do estado psicológico de Cátia, esta torna a recordar os eventos que a fizeram perder os sentidos, os quais envolviam Verónica.


5º episódio

- Cátia! Revolta na Assembleia. Queres?
- Aaa... ok... pode ser...
- Pode ser...?! - o editor chefe levanta-se da sua cadeira e, com passos rápidos e firmes, sai do seu escritório em direcção ao corredor por onde Cátia estava a passar naquele preciso momento, pára junto a ela, olha bem fundo nos seus olhos, leva as mãos à cintura e, com voz grave, mas calma e precisa, diz-lhe - Que se passa contigo, mulher? Estás a perder a garra. És uma das melhores jornalistas que já passou aqui pelo meu jornal, e tu sabes disso. Nunca tiveste dúvidas sobre nada e sempre foste ao ataque. Caramba, até ajudaste outros novatos a subir. E vejo-te agora já há três dias a desfalecer? Tira uns dias se quiseres, mas não te quero ver assim, percebes? O "furo" precisa de ti - permanece uns breves segundos com o olhar fixo no de Cátia, e então dá meia volta e regressa ao seu escritório.
- Vamos? - pergunta um colega, com a voz elevada, do fundo do corredor, agitando no ar a chave de um carro da empresa, para que Cátia entendesse. Cátia suspira e, sem grande vontade, responde:
- 'Bora... Vai descendo, vou só buscar a minha mala e já vou ter contigo...
Meia hora depois, já instalados no automóvel que os levaria ao destino, um sinal vermelho obriga a primeira paragem desde que saíram do jornal.
- Uma formiga passeia alegremente na selva, e entretanto começa a sentir o chão tremer...
Cátia franze as sobrancelhas, vira a cabeça para o colega e, desconcentrada do seu raciocício:
- Desculpa...? 'Tás para aí a dizer, Zé? - e volta a cabeça para a frente - Conduz mas é, não preciso de conversa, muito menos que me tentem animar...
- Cátia, desde que voltaste do passeio a Paris com aquela tua amiga que andas diferente. O que quer que tenha acontecido entre vós, precisas de resolver, caramba. O chefe tem razão, assim não estás a ser útil no teu trabalho.
O silêncio reinstalou-se, o sinal mudou para verde, Zé engatou a primeira velocidade e arrancou.
- Se calhar tens razão... - murmura Cátia pensativa, enquanto lhe surge na mente um desabafo para partilhar com o colega de trabalho - Sabes o que é ter uma amiga de infância, uma melhor amiga, a quem contas tudo, e a quem recorres para o bem e o mal, alguém que sabes com quem podes contar... um dia essa pessoa desiludir-te?
Zé desvia a atenção da estrada e olha o rosto triste de Cátia.
- Ah... então é isso que te alterou a eficiência no trabalho - tentando mostrar-se compreensivo - Queres contar-me o que a Verónica te fez em Paris?
- Não foi em Paris... foi há muitos anos atrás. Paris foi onde me recordei... - a voz de Cátia treme, e seu olho esquerdo verte uma lágrima - de tudo...

Entretanto, do outro lado da cidade, Verónica mira o telemóvel e o céu alternadamente, enquanto, com uma pequena colher, mexe o açúcar que deitou no seu café. Sentada na mesma mesa, na cadeira em frente, a sua mãe olha-a:
- Filha, não te martirizes mais. Relaxa um pouco. Logo ligas à Cátia.
- Ela não me atende, mãe. E se calhar eu faria o mesmo, depois do que lhe fiz...
Numa pausa com a chávena a meio caminho entre a mesa e a boca, a mãe de Verónica busca palavras de conforto na sua mente:
- Querida, o que lhe fizeste tinha de ser. Salvaste-a. Ela só ainda não percebeu isso. Dá-lhe tempo. E se ela nunca o perceber, tu sabes que fizeste o que devias.
Verónica mirava o horizonte com mágoa...
- Mas este entretanto custa-me muito... Preciso falar com ela - e pressiona o botão de chamar no telemóvel, onde já tinha o dedo preparado há largos minutos.

Zé olha o telemóvel de Cátia no espaço entre os bancos da frente do automóvel, junto ao manípulo das mudanças, e de seguida para Cátia:
- Não vais atender?
- Atende tu se quiseres. Aproveita e convida-a 'pra sair. Pode ser a tua oportunidade.
Zé cora de repente e desculpa-se:
- Cátia... não sejas parva. Eu só te queria ajudar.
- 'Tá bem, ajudas-me depois - Zé havia chegado ao local a que se destinavam - Estaciona e vem ter comigo - Cátia sai do carro, fecha a porta e dirige-se às escadarias da Assembleia, onde outros repórteres já se encontravam. Zé, estacionando num lugar perto, olha mais uma vez o telemóvel de Cátia, que ainda toca, e decide atendê-lo:
- 'Tou sim?
- Cátia? - responde Verónica do outro lado da linha.
- A Cátia está lá fora... Aqui é o Zé. 'Tás fixe, Verónica?
- Ahh... Zé, tudo bem? Como vai isso? Posso falar com a Cátia?
- Ela foi agora 'pró meio da multidão, vamos fazer a reportagem. Eu digo-lhe que lhe ligaste, pode ser? - Verónica hesita e responde:
- Sim... claro. Obrigado, Zé - e baixa a mão com o telemóvel ainda em linha.



- De nada, Verónica, 'tás à vontade - exalta-se Zé, aproveitando a oportunidade - Achas que a gente podia tomar um cafézito qualquer dia? - mas Verónica já tinha afastado o telemóvel do ouvido, mantendo-o com as mãos ao colo. Percebendo que não obtia resposta, Zé desliga a chamada, sentindo-se embaraçado - Bolas, já fiz merda!



Não percas o próximo episódio...