22 de fevereiro de 2015

Dreamzzz...

No episódio anterior, Cátia recupera de um susto que lhe valeu uma ida ao hospital. Verónica ajuda-a e ambas vão até uma creperia para desanuviar. Com o melhorar do estado psicológico de Cátia, esta torna a recordar os eventos que a fizeram perder os sentidos, os quais envolviam Verónica.


5º episódio

- Cátia! Revolta na Assembleia. Queres?
- Aaa... ok... pode ser...
- Pode ser...?! - o editor chefe levanta-se da sua cadeira e, com passos rápidos e firmes, sai do seu escritório em direcção ao corredor por onde Cátia estava a passar naquele preciso momento, pára junto a ela, olha bem fundo nos seus olhos, leva as mãos à cintura e, com voz grave, mas calma e precisa, diz-lhe - Que se passa contigo, mulher? Estás a perder a garra. És uma das melhores jornalistas que já passou aqui pelo meu jornal, e tu sabes disso. Nunca tiveste dúvidas sobre nada e sempre foste ao ataque. Caramba, até ajudaste outros novatos a subir. E vejo-te agora já há três dias a desfalecer? Tira uns dias se quiseres, mas não te quero ver assim, percebes? O "furo" precisa de ti - permanece uns breves segundos com o olhar fixo no de Cátia, e então dá meia volta e regressa ao seu escritório.
- Vamos? - pergunta um colega, com a voz elevada, do fundo do corredor, agitando no ar a chave de um carro da empresa, para que Cátia entendesse. Cátia suspira e, sem grande vontade, responde:
- 'Bora... Vai descendo, vou só buscar a minha mala e já vou ter contigo...
Meia hora depois, já instalados no automóvel que os levaria ao destino, um sinal vermelho obriga a primeira paragem desde que saíram do jornal.
- Uma formiga passeia alegremente na selva, e entretanto começa a sentir o chão tremer...
Cátia franze as sobrancelhas, vira a cabeça para o colega e, desconcentrada do seu raciocício:
- Desculpa...? 'Tás para aí a dizer, Zé? - e volta a cabeça para a frente - Conduz mas é, não preciso de conversa, muito menos que me tentem animar...
- Cátia, desde que voltaste do passeio a Paris com aquela tua amiga que andas diferente. O que quer que tenha acontecido entre vós, precisas de resolver, caramba. O chefe tem razão, assim não estás a ser útil no teu trabalho.
O silêncio reinstalou-se, o sinal mudou para verde, Zé engatou a primeira velocidade e arrancou.
- Se calhar tens razão... - murmura Cátia pensativa, enquanto lhe surge na mente um desabafo para partilhar com o colega de trabalho - Sabes o que é ter uma amiga de infância, uma melhor amiga, a quem contas tudo, e a quem recorres para o bem e o mal, alguém que sabes com quem podes contar... um dia essa pessoa desiludir-te?
Zé desvia a atenção da estrada e olha o rosto triste de Cátia.
- Ah... então é isso que te alterou a eficiência no trabalho - tentando mostrar-se compreensivo - Queres contar-me o que a Verónica te fez em Paris?
- Não foi em Paris... foi há muitos anos atrás. Paris foi onde me recordei... - a voz de Cátia treme, e seu olho esquerdo verte uma lágrima - de tudo...

Entretanto, do outro lado da cidade, Verónica mira o telemóvel e o céu alternadamente, enquanto, com uma pequena colher, mexe o açúcar que deitou no seu café. Sentada na mesma mesa, na cadeira em frente, a sua mãe olha-a:
- Filha, não te martirizes mais. Relaxa um pouco. Logo ligas à Cátia.
- Ela não me atende, mãe. E se calhar eu faria o mesmo, depois do que lhe fiz...
Numa pausa com a chávena a meio caminho entre a mesa e a boca, a mãe de Verónica busca palavras de conforto na sua mente:
- Querida, o que lhe fizeste tinha de ser. Salvaste-a. Ela só ainda não percebeu isso. Dá-lhe tempo. E se ela nunca o perceber, tu sabes que fizeste o que devias.
Verónica mirava o horizonte com mágoa...
- Mas este entretanto custa-me muito... Preciso falar com ela - e pressiona o botão de chamar no telemóvel, onde já tinha o dedo preparado há largos minutos.

Zé olha o telemóvel de Cátia no espaço entre os bancos da frente do automóvel, junto ao manípulo das mudanças, e de seguida para Cátia:
- Não vais atender?
- Atende tu se quiseres. Aproveita e convida-a 'pra sair. Pode ser a tua oportunidade.
Zé cora de repente e desculpa-se:
- Cátia... não sejas parva. Eu só te queria ajudar.
- 'Tá bem, ajudas-me depois - Zé havia chegado ao local a que se destinavam - Estaciona e vem ter comigo - Cátia sai do carro, fecha a porta e dirige-se às escadarias da Assembleia, onde outros repórteres já se encontravam. Zé, estacionando num lugar perto, olha mais uma vez o telemóvel de Cátia, que ainda toca, e decide atendê-lo:
- 'Tou sim?
- Cátia? - responde Verónica do outro lado da linha.
- A Cátia está lá fora... Aqui é o Zé. 'Tás fixe, Verónica?
- Ahh... Zé, tudo bem? Como vai isso? Posso falar com a Cátia?
- Ela foi agora 'pró meio da multidão, vamos fazer a reportagem. Eu digo-lhe que lhe ligaste, pode ser? - Verónica hesita e responde:
- Sim... claro. Obrigado, Zé - e baixa a mão com o telemóvel ainda em linha.



- De nada, Verónica, 'tás à vontade - exalta-se Zé, aproveitando a oportunidade - Achas que a gente podia tomar um cafézito qualquer dia? - mas Verónica já tinha afastado o telemóvel do ouvido, mantendo-o com as mãos ao colo. Percebendo que não obtia resposta, Zé desliga a chamada, sentindo-se embaraçado - Bolas, já fiz merda!



Não percas o próximo episódio...